sábado, 5 de novembro de 2011





UMA FOLHA EM BRANCO


Uma folha em branco

era mais uma folha em branco

na pilha de folhas em branco do

escritório de advocacia.

Folha em branco: logo meu

destino estará traçado e será o mesmo

destino de todas as folhas em branco

virarei provavelmente uma petição,

transitarei pelas esferas devidas do direito,

nenhuma surpresa tantas folhas em branco por

ai que tiveram boa sorte destinadas a poemas,

ai que inveja, até mesmo os guardanapos,

meu Deus, os mais vagabundos, servem

de veículo para declarações de amor fulminantes.

E eu aqui, a cada dez minutos subindo uns degraus

nesta pilha, não propriamente pelo meu esforço

mas pelo sumiço das outras.

e ninguém garante que eu não vá parar nas mãos

de um incendiário)

Esta incerteza, claro, aumenta a ansiedade.

E mesmo sabendo

que poderia ser pior, poderia ser, sei lá, um papel

higiênico, um Neve da vida, servido em bandejas

pelas mãos de um Alfredo,

nem isto tira o marasmo

desta rotina

eu estou mofando nesta pilha

e não há nenhuma perspectiva

de mudança, a única solução é ir pela janela.

Mas não para o suicídio. Pelas mãos de um travesso

qualquer que entre, uma criança, que faça

de mim uma gaivota , e me lance . Acredito em milagres.

E que não vai estar chovendo neste dia.

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