domingo, 6 de novembro de 2011
MERENCÓRIA INFÂNCIA
’a Ricardo Domeneck
_Nem a minha infância é
Isenta de ruídos:
_ diz o soldado raso atrás da trincheira,
Observando ao longe aero-naves inimigas,
Enxame de mosquitos ainda
Mas se aproximando para um novo ataque .
_ nem na minha infância posso
me entrincheirar com toda a segurança._
Nem em minha infância posso dormir
sem a ameaça sobrevoando a minha cabeça.
As aero-naves se aproximando cada vez mais.
Ele , o soldado –raso cada vez mais profundo,
Buscando em si mesmo alguma trincheira
Mais segura, as aeronaves inimigas produzindo suas primeira vítimas,
O já costumeiro cai um prum lado, outro pro outro,
“Como é que eu vou me safar” ,
Ele completamente agachado, íntimo do chão, uma pedra,
Sem o movimento nos pulmões, mesmo o coração silencia, apesar da tensão,
Ele, o soldado raso, cada vez mais profundo, buscando uma alternativa,
uma brecha uma frincha para se enfiar, inseto arredio,
ameaçado por jatos de inseticida por todos os lados:
pensa nas canções de sua adolescência, na primeira namorada,
na primeira vez que foi a um estádio, mesmo a morte tem sua primeira vez e última,
e esta oportunidade parece se aproximar a passos largos,
a infância, Meus Deus, na infância deve haver um local leitoso, incontaminado, virgem,
e agora, ele, o soldado-raso, cada vez mais profundo, trabalhando em sua memória
como uma máquina exploradora de petróleo, agora exclama:
_Nem na minha infância, estou livre destas malditas aeronaves.
Cai mais um pino de boliche.
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